Algumas horas depois da invasão de apoiadores de Donald Trump à sede do Legislativo norte americano no dia 6 de janeiro de 2021, estimulados pelo próprio presidente derrotado no final de 2020, o chefe do Executivo brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), voltou levantar a tese da fraude no sistema de urnas eletrônicas.
Bolsonaro, em frente ao Palácio do Planalto, no dia 7 de janeiro, afirmou: “Se nós não tivermos o voto impresso em 2022, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior do que os Estados Unidos”. Sua acusação de fraude não é nova, mesmo sobre a eleição que venceu após o melhor colocado das pesquisas ter sido impedido de concorrer.
Em março de 2020, ele afirmou que apresentaria provas da suposta fraude ocorrida em 2018, mas nunca o fez. Não o fez até agora porque não as possui, o que torna o mais alto chefe da nação um mentiroso. Se as possui, é conivente, pois as esconde deliberadamente por mais de dois anos.
O Brasil dispõe uma Justiça especializada para conduzir o processo, e este ramo do Judiciário é formado por milhares de trabalhadores e trabalhadoras dedicados e cumpridores das suas funções de modo exemplar. Mesmo durante a pandemia, trabalharam para garantir o pleito de 2020, e não podem ser levianamente acusados de serem parte de um golpe sobre a vontade popular.
Em mais de 20 anos de eleição eletrônica, nunca houve uma denúncia de fraude comprovada. A teoria absurda de que os votos são alterados durante a transmissão ou totalização só é propagada por quem desconhece um dos mecanismos mais básicos e elementares de conferência e validação dos resultados: o boletim de urna, que é impresso por cada urna eletrônica ao final da votação e que pode ser conferido por qualquer eleitor com o resultado que chegou ao TSE, por uma simples comparação. Os próprios partidos políticos e candidatos já fazem essa comparação e nenhum partido até hoje apresentou qualquer evidência consistente de divergência entre esses resultados – o PSDB fez, em 2015, uma auditoria nesse sentido, após a “crise de desconfiança” com os resultados da eleição de 2014.
As instituições responsáveis deveriam intimar o presidente a apresentar as provas da fraude e impedir que Jair Bolsonaro prepare à luz do dia “algo pior”, nas palavras do presidente, do que aconteceu no dia 6 de janeiro de 2021 nos Estados Unidos.
O Sintrajufe/RS, sindicato que representa os trabalhadores da Justiça Eleitoral e do Judiciário Federal e do Ministério Público da União no Rio Grande do Sul, repudia as declarações do presidente e seu desprezo pela democracia e irá buscar todos os meios disponíveis para a reparação da verdade e a defesa dos serviços públicos.
Direção Executiva do Sintrajufe/RS